Contudo, 83 anos depois do ocorrido, o escritor alagoano Antônio Pinto garantiu ao Portal Lagartense que tudo não passou de uma farsa. “Naquela época, não havia mais combate entre o cangaço e a polícia, mas Lampião acabou se expondo demais em jornais, filmes e revistas, e acabou se tornando uma estrela. Então o presidente Getúlio Vargas, assim que soube, deu a ordem para acabar com ele.
Mas como Lampião vivia em Pão de Açúcar (AL), ele tinha muitos amigos fazendeiros que davam cobertura a ele. Um desses amigos era o prefeito Joaquim Resende que, na segunda-feira, antes do ato na Grota do Angico, se reuniu com o Tenente Aniceto, na Fazenda Floresta, em Porto da Folha, para acertar que nem Lampião mataria polícia e nem a polícia mataria Lampião”, conta.
Nesse acerto, segundo o escritor, o Tenente Aniceto ficou encarregado de garantir que não iria fechar o cerco policial, para que Lampião conseguisse fugir, enquanto o prefeito Joaquim deu-lhe um título de terra para que ele pudesse viver – sob o anonimato – uma nova vida longe do cangaço. “Joaquim ainda garantiu que um carro estaria a espera de Lampião no povoado Logradouro, em Poço Redondo. Mas, no confronto, Lampião acabou se ferindo e foi socorrido por um vaqueiro de nome Aurélio, que o levou para a Fundação Cespe, onde hoje é Nossa Senhora da Glória. Lá, os médicos o trataram e, na saída, Lampião escreveu na parede: ‘Aqui passou LP’. Aquele foi o seu último ato no cangaço”, destaca o escritor.
Antônio Pinto contou também que, antes do Massacre do Angico, Lampião havia informado ao seu bando do acerto e que eles, a partir daquele momento, seriam dados como mortos e que, portanto, teriam que confirmar para todos que o líder cangaceiro estava morto. “Lampião os orientou a se manterem escondidos por seis meses e ainda disse que se alguém dissesse que ele estava vivo, ele mesmo iria matá-lo”, observa.
A cabeça de um menor pela cabeça de Lampião
Questionado sobre as cabeças expostas, Antônio Pinto garantiu que todo o bando conseguiu fugir e que no lugar da cabeça de Lampião estava a cabeça de um menor de idade que havia chegado na região. “Estava tudo combinado! Para você ter uma ideia, o IML de Maceió não deu nenhum atestado de óbito, mas sim um laudo médico que dava apenas as medidas da cabeça. Pelo laudo, da mandíbula ao crânio media 17 centímetros, o equivalente a cabeça de um menino.
Então o que fizeram: Cortaram a cabeça de um menino e jogaram seu corpo no rio. Com isso, mostraram que tinham matado Lampião e ganharam um dinheirão do Governo da Bahia, que tinha uma indenização de 200 mil réis. Tudo em cima de fake news! […] Todo o material divulgado já estava na mão do fotografo antes do ocorrido, tanto é que não há sangue na foto. Eu fiz pesquisas junto ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, para ver se tinha sangue, mas não tinha. Por isso, na semana passada, enviei uma carta ao governador de Alagoas, Renan Filho, para que o Estado se retrate sobre este caso perante a sociedade”, completa.
A vida no anonimato entre Minas Gerais e Alagoas
Ao Portal Lagartense, o escritor alagoano contou que, após o evento ocorrido na Grota do Angico, Lampião e Maria Bonita se refugiaram na cidade de Buritis-MG. Ele adotou o nome de João Novato; ela, Maria Rita. “Só que em 1961, ele, a mulher, a cunhada Inocência e o sobrinho Elísio vão para Pão de Açúcar, onde tinham muito conhecimento e o povo, mais uma vez, o manteve acobertado”, pontua.
De acordo com Antônio Pinto, Lampião residiu na Rua Professora Rosália Sampaio Bezerra, nº 449. Por lá, ele permaneceu até 1982, quando morreu aos 85 anos, vítima de problemas renais. “Ele tinha problemas nos rins, porque não bebia água na época do cangaço. Além disso, ele retardou a sua ida para o hospital e começou a urinar sangue. Mas um certo dia ele passou mal e foi levado para o Hospital Dr. Djalma Gonçalves, em Pão de Açúcar. De lá, encaminharam ele para o Hospital Geral de Alagoas, em Maceió, onde morreu. Seu corpo chegou no dia seguinte e pouquíssimas pessoas estiveram presentes. Tanto que seu corpo foi carregado por uma turma que jogava baralho na cidade. Aliás, ele gostava muito de baralho”, detalha. “Já Maria Bonita morreu dois anos depois, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, por problemas ginecológicos”, acrescenta.
Em relação aos seus dias de vida pós-cangaço, Antônio Pinto relatou que Lampião ou João Novato evitava sair de casa e que tinha uma rotina quase que inalterável. “Eu era criança e andei muito dentro da casa dele, porque fui passar um tempo com minha avó, que era vizinha deles. Então eu chegava cedo na casa dele e o via, geralmente, cortando lenha, amolando o facão e depois catando feijão. Ele também gostava muito de xaxado e, embora vivesse trancado, tinha momentos de alegria, principalmente, quando passavam os alunos indo para a escola que falavam com ele”, relembra.
O escritor ainda lembra que, por vezes, Lampião tinha vontade de contar seu segredo. “Mas quando ele pensava em falar, Maria Rita dizia: João, João!”, sublinha. Toda essa história, que é muito criticada e pouco acreditada pelos historiadores é contada no livro intitulado ‘Lampião, a sua verdadeira morte: Angicos não houve o fim!’. Além disso, Antônio concederá uma entrevista exclusiva nesta quarta-feira, às 15h, ao programa Sala de Reboco, exibido pela TV Serigy, afiliada ao Sistema Lagartense de Comunicação.