26/05/2021 às 14h04min - Atualizada em 26/05/2021 às 14h04min

‘Não vejo motivo para ser convocado pela CPI’, diz governador de Alagoas

Renan Filho afirma que está ‘tranquilo’ caso seja ouvido pelo colegiado sobre repasses do governo; Filho do senador Renan Calheiros, relator da comissão, ele classifica como ‘lamentáveis’ as cenas do presidente Bolsonaro em aglomeração

ESTADÃO
SECOM
Nesta quarta-feira, 26, senadores da CPI da Covid votarão requerimentos de convocação de governadores e também de prefeitos para que deponham sobre a aplicação do dinheiro destinado ao combate à pandemia e os problemas enfrentados na condução da crise.

O governador alagoano classificou como “lamentáveis” as cenas recentes do presidente Bolsonaro em aglomerações, na semana passada em Estados do Nordeste e no Rio. “São equívocos incontáveis.”

Na entrevista, Renan Filho disse ainda que o cenário político atual aponta para que o MDB abra mão de candidatura própria a presidente em 2022 e opte por um dos lados da polarização política desenhada entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como o senhor, como governador e diante de tanto trabalho para combater a covid-19, reagiu às cenas de aglomerações na última semana pelo Nordeste do presidente da República, Jair Bolsonaro, e especialmente, no Rio?

São cenas lamentáveis, né? Por vários motivos. Primeiro porque elas próprias contribuem muito para o aumento da transmissão da doença, e, segundo, porque dão um péssimo exemplo ao País no momento em que a gente precisaria dar bons exemplos à população, porque não é fácil enfrentar uma pandemia dessa natureza. Portanto, o esforço coletivo precisa ser dividido. E, quando a gente vê uma aglomeração liderada pelo próprio presidente da República, certamente, em minha opinião, as pessoas ficam sem compreender nada.

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O governador de Alagoas, Renan Filho Foto: Nilton Fukuda / Estadão

 

O pai do sr., senador Renan Calheiros, se tornou um dos focos de ataques do presidente e de líderes governistas por ser relator da CPI da Covid? Como o Sr. recebe essas críticas, principalmente do discurso de que a comissão pouparia Estados?

Eu recebo as críticas, primeiro, com naturalidade. Como tem muita dificuldade para se defender nessa crise, o governo é como se fosse um time de futebol sem volante, sem zagueiros, sem laterais e sem o próprio goleiro. Ou seja, parte para última alternativa, que é um ataque. Então, eles têm feito isso em várias vertentes. Tanto contra o relator, quanto contra governadores de Estado, que, a meu ver, têm sustentado o Brasil. Por isso uma federação é importante, porque quando alguém está no rumo equivocado, a federação modera esse equívoco.

Os governadores têm agido decisivamente no sentido de respeitar a ciência, preservar vidas, criar as condições para as pessoas serem tratadas quando adoecem, defendendo a vacinação em massa desde o início, inclusive se colocando à disposição para comprar, mesmo em uma condição financeira muito aquém da União. Estados têm limite orçamentário, claro. A União, não.

Desde que o nome do seu pai começou a ser considerado para relatoria da CPI esse movimento político contrário se transformou em série de ataques na internet. O senador chegou até a trancar o perfil em redes sociais. Com o Sr. houve o mesmo movimento?

Eu não sofro esses ataques nacionais de uso de robôs. Mas esses ataques também são circunstanciais, cada dia tem um alvo. Isso é da atividade. Um dia foi o Renan, outro dia foi o governador do Maranhão, outro dia foi o governador de São Paulo, antes o governador do Rio Grande do Sul. Esses ataques se tornaram corriqueiros, a gente já conhece a estratégia e ninguém vai recuar do que faz, do trabalho que faz. Sou dessa geração, eu valorizo as conexões entre pessoas, as conexões virtuais, mas a gente sabe que muita gente tenta desvirtuar, transformar um pensamento majoritário nas redes que claramente não é um pensamento majoritário nas ruas, e a gente não observa isso nas pesquisas de opinião.

Qual é a sua avaliação das primeiras semanas de trabalho da CPI? O sr. acredita que possa ser convocado a comissão?

É muito difícil o trabalho, porque a CPI tem que construir uma narrativa que é negada o tempo inteiro com enredos múltiplos, sempre recheados de mentiras. As pessoas se eximindo do que falaram, flexibilizando o que foi postado em rede social, dizendo que aquela mensagem não era verdadeira. Constrói-se a narrativa para justificar o caos, a gente vendo a América Latina se destacar internacionalmente pelo número de mortes por covid-19, e o Brasil com aproximadamente metade das mortes ocorridas na região onde mais morre no mundo, muito por equívocos de condução da pandemia, equívocos incontáveis. O de anteontem (no Rio), como você iniciou essa entrevista, foi um exemplo de “aglomere”, né? O exemplo é: aglomere. Então esse foi um, mas tem incontáveis que estão sendo relativizados, arredondados. Com relação à convocação eu, sinceramente, aqui em Alagoas, não vejo nenhum motivo para ser convocado. Primeiro, o Estado tem um dos menores números de mortes do Brasil, e o menor do Nordeste em números absolutos, mesmo não tendo a menor população. Nós temos o terceiro menor número de mortes relativas do País aqui em Alagoas por grupo de 100 mil habitantes, é o terceiro Estado onde menos morreram pessoas. Nós não temos nenhuma investigação em curso no Estado, com relação a recursos do covid, coisas dessa natureza. De maneira que estarei muito tranquilo se for convocado, mas não vejo motivação para isso.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha para ser candidato novamente ao Planalto. O sr. o apoiaria, ou o MDB deve ter algum nome, como foi Henrique Meirelles em 2018?

Eu penso como partido e sou um cara que sempre acho que partido político deve disputar a eleição. A eleição com o Meirelles, a última, foi muito ruim, porque o governo Temer vinha com muita dificuldade. E o Meirelles, ele não é da política, ele não conhece bem o linguajar, não conhecia o Brasil com profundidade, não conhecia as lideranças. Então, ele foi um candidato sem aderência. Mas eu acho que o PMDB, sempre que possível, deve buscar ter candidato, porque o partido precisa apresentar o seu projeto ao País. Nessa atual eleição me parece que o cenário será de polarização. As próprias candidaturas já colocadas, à exceção de Lula e Bolsonaro, involuíram ao longo dos últimos meses.

O que demonstra, diferentemente do que alguns defendem, o surgimento de uma possível terceira via. Na verdade o que está acontecendo ao longo dos últimos meses é a terceira via involuir, e se concentrar nas duas vias principais existentes. E eu vou, dentro do MDB, debater a respeito de apoiar alguma candidatura, ou ter candidatura própria. No cenário atual, a tendência é que não tenhamos candidatura própria. Agora, o PMDB é um partido muito amplo, muito diverso, com lideranças expressivas regionais. Então, esse debate será um debate acalorado.

Como essa questão de um possível apoio à candidatura de Lula deve ser tratada dentro do MDB, já que o partido, de Michel Temer, é apontado como o pilar de articulação do impeachment de Dilma Rousseff que garantiu o cargo ao ex-presidente?

Eu acho que o MDB tem muita tranquilidade, primeiro que tem uma conduta independente do governo Bolsonaro, isso já ajuda o partido, porque não nos responsabiliza com o que está acontecendo no atual governo. E eu sinto que o pensamento majoritário do partido é por mudança, não é por manutenção do que está aí. E, se é por mudança, nós temos muito espaço para conversar com uma candidatura alternativa e certamente o MDB vai precisar compreender melhor qual será essa candidatura. E o ex-presidente Lula certamente reúne atributos pra fazer esse diálogo, eu não tenho dúvida disso.


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