26/10/2022 às 19h00min - Atualizada em 26/10/2022 às 19h00min

Delegado atacado por Roberto Jefferson disse não ter dúvidas de que ex-deputado agiu de forma premeditada e para matar policiais

Marcelo Villela e a policial Karina Lino Miranda de Oliveira ficaram feridos por estilhaços ao cumprir mandado de prisão contra o ex-deputado no interior do RJ, no domingo (23).

Roberto Jefferson chega ao Rio após ser preso — Foto: Reprodução/TV Globo

Para o delegado Marcelo Villela, alvo de disparos de Roberto Jefferson no domingo (23) durante o cumprimento de um mandado de prisão no interior do RJ, o ataque à Polícia Federal foi premeditado.

“Os indícios não deixam dúvidas de que Roberto Jefferson aguardava a polícia federal e agiu de forma premeditada e com intenção de matar os policiais”, diz o trecho do depoimento à polícia.
Além de Villela, ferido no crânio, a policial Karina Lino Miranda de Oliveira, de 31 anos, foi atingida por estilhaços de granada no quadril. Os dois precisaram de atendimento médico.

 

A ordem de prisão partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após Jefferson descumprir várias medidas de prisão domiciliar, como usar redes, postar ameaças e ofensas a ministros, receber visitas e passar orientações políticas.

Levado para Bangu, Jefferson foi indiciado por quatro tentativas de homicídio. Além dos dois agentes, feridos, o indiciamento é referente a outros dois que estavam numa viatura, mas não chegaram a ser atingidos.

Na chegada dos agentes da PF a Comendador Levy Gasparian, por volta das 11h, Jefferson jogou duas granadas e deu tiros de fuzil. Foram oito horas desrespeitando a ordem do STF até a rendição, às 19h.

O sistema do Exército aponta que a licença do ex-deputado Roberto Jefferson estava suspensa e que ele não poderia ter ou transportar armas fora de Brasília.

Por conta do descumprimento, o Exército abriu processo administrativo para apurar o caso e a Polícia Federal instaurou inquérito na esfera criminal.

Sem interferência externa

Em reunião na terça-feira (25), delegados da Polícia Federal disseram que o superintendente regional do órgão, Ivo Roberto Costa da Silva, negou que tenha havido interferência externa durante a prisão de Jefferson. A informação foi divulgada em uma nota interna à qual o g1 teve acesso.

Segundo os representantes da PF, o superintendente afirmou que “a operação foi desencadeada em obediência aos padrões técnico-operacionais de atuação policial”.

Na reunião, a categoria pediu ainda que sejam adotadas providências em relação à postura do policial Vinícius Secundo, chamado para negociar a rendição de Jefferson. O superintendente, segundo os delegados, esclareceu que o próprio policial reconheceu “a impropriedade de pontos do diálogo” mantidos com o ex-deputado.

Secundo é chefe do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) e do Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepom) da PF no RJ.

A abordagem foi criticada por especialistas em segurança pública e gerenciamento de crise, que classificaram a situação como “um bate-papo”, “fora do imaginável” e “uma ofensa aos policiais”.

Secundo disse que “vestiu um personagem”.

Veja os principais pontos sobre o ata

  • Jefferson cumpria prisão domiciliar, determinada no inquérito sobre uma organização criminosa que atenta contra o Estado Democrático de Direito.
  • Ele descumpriu várias medidas da prisão domiciliar, como passar orientações a dirigentes do PTB, usar as redes sociais, receber visitas, conceder entrevista e compartilhar fake news que atingem a honra e a segurança do STF e seus ministros, como ao ofender a ministra Cármen Lúcia.
  • Por causa de todos estes descumprimentos, Alexandre de Moraes revogou a prisão domiciliar e determinou sua volta ao regime fechado.
  • Neste domingo (23), a Polícia Federal foi cumprir a ordem de prisão e foi atacada por Roberto Jefferson com granadas e fuzil — mesmo que ele não tenha direito de portar arma de fogo. Dois agentes foram feridos. A PF revidou após o ataque, mas não invadiu a casa do ex-deputado.
  • Jair Bolsonaro repudiou as ofensas a Cármen Lúcia e a ação armada, mas criticou o inquérito do STF e determinou a ida do ministro da Justiça, Anderson Torres, ao local. A presença do ministro foi um pedido do próprio Roberto Jefferson, informa o colunista Valdo Cruz.
  • Apoiadores de Jair Bolsonaro foram para a porta da casa de Roberto Jefferson e hostilizaram a imprensa que estava no local. Um repórter cinematográfico foi agredido por bolsonaristas.
  • O ex-deputado federal se entregou após 8 horas descumprindo a decisão do STF.

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