Para o delegado Marcelo Villela, alvo de disparos de Roberto Jefferson no domingo (23) durante o cumprimento de um mandado de prisão no interior do RJ, o ataque à Polícia Federal foi premeditado.
“Os indícios não deixam dúvidas de que Roberto Jefferson aguardava a polícia federal e agiu de forma premeditada e com intenção de matar os policiais”, diz o trecho do depoimento à polícia.
Além de Villela, ferido no crânio, a policial Karina Lino Miranda de Oliveira, de 31 anos, foi atingida por estilhaços de granada no quadril. Os dois precisaram de atendimento médico.
A ordem de prisão partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após Jefferson descumprir várias medidas de prisão domiciliar, como usar redes, postar ameaças e ofensas a ministros, receber visitas e passar orientações políticas.
Levado para Bangu, Jefferson foi indiciado por quatro tentativas de homicídio. Além dos dois agentes, feridos, o indiciamento é referente a outros dois que estavam numa viatura, mas não chegaram a ser atingidos.
Na chegada dos agentes da PF a Comendador Levy Gasparian, por volta das 11h, Jefferson jogou duas granadas e deu tiros de fuzil. Foram oito horas desrespeitando a ordem do STF até a rendição, às 19h.
O sistema do Exército aponta que a licença do ex-deputado Roberto Jefferson estava suspensa e que ele não poderia ter ou transportar armas fora de Brasília.
Por conta do descumprimento, o Exército abriu processo administrativo para apurar o caso e a Polícia Federal instaurou inquérito na esfera criminal.
Sem interferência externa
Em reunião na terça-feira (25), delegados da Polícia Federal disseram que o superintendente regional do órgão, Ivo Roberto Costa da Silva, negou que tenha havido interferência externa durante a prisão de Jefferson. A informação foi divulgada em uma nota interna à qual o g1 teve acesso.
Segundo os representantes da PF, o superintendente afirmou que “a operação foi desencadeada em obediência aos padrões técnico-operacionais de atuação policial”.
Na reunião, a categoria pediu ainda que sejam adotadas providências em relação à postura do policial Vinícius Secundo, chamado para negociar a rendição de Jefferson. O superintendente, segundo os delegados, esclareceu que o próprio policial reconheceu “a impropriedade de pontos do diálogo” mantidos com o ex-deputado.
Secundo é chefe do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) e do Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepom) da PF no RJ.
A abordagem foi criticada por especialistas em segurança pública e gerenciamento de crise, que classificaram a situação como “um bate-papo”, “fora do imaginável” e “uma ofensa aos policiais”.
Secundo disse que “vestiu um personagem”.
Veja os principais pontos sobre o ata
- Jefferson cumpria prisão domiciliar, determinada no inquérito sobre uma organização criminosa que atenta contra o Estado Democrático de Direito.
- Ele descumpriu várias medidas da prisão domiciliar, como passar orientações a dirigentes do PTB, usar as redes sociais, receber visitas, conceder entrevista e compartilhar fake news que atingem a honra e a segurança do STF e seus ministros, como ao ofender a ministra Cármen Lúcia.
- Por causa de todos estes descumprimentos, Alexandre de Moraes revogou a prisão domiciliar e determinou sua volta ao regime fechado.
- Neste domingo (23), a Polícia Federal foi cumprir a ordem de prisão e foi atacada por Roberto Jefferson com granadas e fuzil — mesmo que ele não tenha direito de portar arma de fogo. Dois agentes foram feridos. A PF revidou após o ataque, mas não invadiu a casa do ex-deputado.
- Jair Bolsonaro repudiou as ofensas a Cármen Lúcia e a ação armada, mas criticou o inquérito do STF e determinou a ida do ministro da Justiça, Anderson Torres, ao local. A presença do ministro foi um pedido do próprio Roberto Jefferson, informa o colunista Valdo Cruz.
- Apoiadores de Jair Bolsonaro foram para a porta da casa de Roberto Jefferson e hostilizaram a imprensa que estava no local. Um repórter cinematográfico foi agredido por bolsonaristas.
- O ex-deputado federal se entregou após 8 horas descumprindo a decisão do STF.