"Cagalhão, cu de cachorro", gritou um dos homens, vestido de camiseta amarela, enquanto saía do Palácio da Alvorada. A reportagem também presenciou quando outro apoiador xingou Bolsonaro de covarde e filho da puta.
No acampamento montado na porta do quartel-general do Exército, em Brasília, manifestantes afirmaram que o presidente não pediu para que o grupo voltasse para casa, e disseram que continuarão mobilizados enquanto os militares deixarem.
O áudio da live do presidente foi reproduzido no QG em grandes caixas de som. Parte do grupo também acompanhou pelo celular. Alguns choraram, se abraçaram e fizeram orações. Ao final, apoiadores se revezaram em um palco improvisado e fizeram discursos.
Um deles disse que não sairia do local já que o presidente não disse para os apoiadores voltarem para suas casas. Outro concordou e afirmou que Bolsonaro prestou contas, mas não mandou ninguém deixar os quartéis.
Pouco após o discurso de despedida, um grupo de motociclistas desfilou em frente ao quartel-general do Exército e reproduziu o hino nacional. Manifestantes vibraram com as motos e se aproximaram da rua para ver o desfile.
Durante a live, Jair Bolsonaro condenou a tentativa de ato terrorista em Brasília, criticou a montagem do governo Lula (PT), repetiu o discurso de perseguido, e defendeu os atos antidemocráticos pelo país.
"É um governo que começa capenga", disse ele sobre a gestão petista que se inicia neste domingo (1º). O presidente ainda ensaiou um discurso de oposição ao governo Lula, o que vinha evitando em sua reclusão após a derrota de outubro.
"Não tem tudo ou nada. Inteligência. Vamos mostrar que somos diferentes." Ainda sobre o Lula 3, disse que "nada está perdido" e que o "Brasil não vai se acabar nesse 1º de janeiro".
"O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês", afirmou o presidente. "Perde-se batalha, mas não perderemos a guerra."
Bolsonaro ficou com os olhos marejados ao falar dos limites de sua caneta. No mesmo pronunciamento, disse ter feito o possível pela reeleição, criticou os nomes indicados para o ministério de Lula e repetiu o discurso de que teria sido perseguido por imprensa e Judiciário ao longo de seus quatro anos de mandato.
Nesta quinta (29), o governo do Distrito Federal e o Exército tentaram desmontar parte da estrutura do acampamento em frente ao QG, mas a ação foi suspensa depois que bolsonaristas reagiram com pedras e chutaram carros.
De acordo com envolvidos, algumas barracas chegaram a ser desmontadas pela manhã, mas a decisão tomada pelas autoridades foi de deixar o local para evitar confronto, diante da reação dos manifestantes.
A três dias da posse do presidente eleito, o local continua com grande estrutura. Há pelo menos duas cozinhas -onde as três principais refeições do dia são servidas de graça-, banheiros, barracas e até uma tenda com tomadas para carregar o celular.