O placar foi de 52 a 9 no segundo turno da votação. Sem excluir as eventuais motivações políticas de Calheiros e Farias, o voto de ambos é um gesto de coragem. Tratado com histeria, o tema da descriminalização incendeia o debate e mobiliza o fanatismo da extrema direita. A decisão do Senado está de acordo com a maioria da população. Votar contra a PEC vai na contramão da gritaria geral. Assinar embaixo dessa estupidez é muito mais confortável.
Como demonstram estudos sobre o tema, a medida aprovada no Senado não contribui pra nada – não enfrenta o tráfico e nem reduzirá o consumo. O único efeito será a discriminação contra pretos e pobres – os favoritos da polícia para jogar nos presídios. É um fracasso anunciado. E daí? Cunha e outros podem sair por aí com o discurso hipócrita de que se preocupam com os jovens e com o “drama das famílias brasileiras”.
A emenda aprovada, que segue agora para votação na Câmara, é de autoria de Rodrigo Pacheco. Sua investida demagógica busca dividendos numa dupla aposta: acena ao eleitorado da extrema direita e confronta o STF. Com isso, bajula a tropa reacionária do Congresso e se ajusta, ainda mais, ao pensamento majoritário da opinião pública. Muita zoada, hipocrisia pra todo lado e nenhuma seriedade.