O casal que aparece nas imagens das câmeras do Real Shopping afirma que Erika de Souza Vieira Nunes recusou ajuda para tirar o tio, Paulo Roberto Braga, do carro de aplicativo. Eles pegaram o mesmo elevador da galeria de onde a mulher levou o idoso até o Itaú do Calçadão de Bangu, onde foi constatada a morte dele.
Em entrevista ao “Encontro com Patrícia Poeta” desta sexta-feira (19), a professora Tânia Mara Setúbal e o mecânico Iran Setúbal disseram que perceberam a dificuldade de Erika de transferir o tio do banco do carona a uma cadeira de rodas.
“Eu vi que eles estavam com dificuldade de tirar o senhor de dentro do carro. Então eu falei [para o marido]: ‘Amor, vê se a senhora precisa de uma ajuda’. Ele foi lá, e ela [Erika] falou para ele: ‘Não precisa de ajuda não, porque eu já estou acostumada com essa situação’”, lembrou Tânia.
“Ele realmente estava com a vista fixa, não piscava, e com a boca um pouquinho aberta. Até comentei com meu marido: ‘Eu acho que ele deve ter tido um AVC’”, detalhou a professora.
Tânia destacou, porém, que Paulo Roberto ainda estava “mole” quando foi retirado do carro.
O casal pegou o mesmo elevador que Erika e Paulo. Tânia disse que a mulher permaneceu calada até o térreo e que o idoso estava paralisado.
O g1 teve acesso a fotos em que Paulo aparece vivo internado com pneumonia na UPA de Bangu. Na última segunda-feira (15), ele recebeu alta da unidade, e a partir de então a sobrinha peregrinou com ele por financeiras a fim de sacar e obter empréstimos.
Defesa pede soltura de Erika
A defesa de Erika entrou com um pedido de habeas corpus nesta quinta-feira (18), na 2ª Vara Criminal de Bangu, pedindo a revogação da prisão.
De acordo com o recurso, que ainda será analisado, caso não ocorra a suspensão da prisão, os advogados querem que Erika responda em liberdade durante as investigações.
O g1 apurou que a defesa alega que Erika tem uma filha de 14 anos que depende de cuidados especiais. “A ora acusada é pessoa íntegra, idônea de bons antecedentes, não pretende se furtar à aplicação da lei penal, nem atrapalhar as investigações, já que possui residência fixa”, diz um trecho do documento.
Os advogados da mulher sustentam que “a prisão preventiva não é justa” porque Erika “sempre se pautou na honestidade e no trabalho”.
No pedido de habeas corpus, a defesa destacou ainda que “não existem mais fundamentos para a manutenção da prisão” da dona de casa, “uma vez que os indícios se baseiam apenas em um clamor público de que Erika havia levado um cadáver até o banco para tentar aplicar um golpe do empréstimo, o que não é verdade”.
Prisão preventiva
No começo da tarde desta quinta, a juíza Rachel Assad da Cunha manteve na audiência de custódia a prisão de Erika, que disse ser sobrinha e cuidadora de Paulo. Ela tentou sacar R$ 17 mil em uma agência bancária em Bangu. Para tanto, Paulo devia assinar um documento — mas, segundo o Samu, o idoso estava morto no guichê. Érika responde por vilipêndio de cadáver e por tentativa de furto.
Em sua decisão, a juíza definiu a ação como “repugnante e macabra” e converteu a prisão em flagrante em preventiva.
A magistrada sustentou que a situação não se resume a definir o exato momento da morte, mas sim pela situação vexatória a qual o idoso estava sendo exposto.
“A questão é definir se o idoso, naquelas condições, mesmo que vivo estivesse, poderia expressar a sua vontade. Se já estava morto, por óbvio, não seria possível. Mas ainda que vivo estivesse, era notório que não tinha condições de expressar vontade alguma, estando em total estado de incapacidade.”
A defesa de Érika diz que o idoso de 68 anos chegou vivo ao banco. O caso é investigado pela 34ª DP (Bangu).