10/05/2021 às 13h53min - Atualizada em 10/05/2021 às 13h53min

Prisão de motorista de prefeito pode colocar na cadeia “Tribunal da Morte” do Sertão.

Depoimento de preso pode revelar detalhes da morte de coordenador de transporte da prefeitura de Pão de Açúcar e de outros assassinatos

Correio Notícia
Bido, que trabalha como motorista do prefeito de Olho d'Água das Flores, pode ser preso a qualquer momento - Foto: Redes Sociais


E as investigações da execução do coordenador de transportes da Prefeitura de Pão de Açúcar, José Petrúcio dos Anjos Filho, 29, o “Petrucinho”, tomam uma nova fase.

Nomeada para comandar as investigações, a delegada Daniela Andrade, da delegacia da Polícia Civil (PC) de Batalha, avançou rumo ao esclarecimento do crime, registrado no domingo de 17 de janeiro deste ano, dentro do restaurante Boi na Brasa, na orla lagunar de Pão de Açúcar, no momento que a vítima almoçava com familiares e amigos.

Com apoio da Divisão Especial de Investigações e Capturas (DEIC) e de seu grupo de elite, o Tático Integrado de Grupos de Resgate Especial (Tigre), foi preso um dos matadores de “Petrucinho”.

O motorista Josenildo Simão Clementino dos Santos, o “Bido“, foi preso em casa, em Olho d’Água das Flores, onde trabalha dirigindo para o prefeito José Luiz dos Anjos. Com ele a polícia apreendeu uma pistola.

Josenildo, conforme as investigações, integra o “Tribunal da Morte” que age no Sertão e é responsável pela compra e venda de drogas e de diversos homicídios. A organização criminosa, supostamente, ainda conforme as investigações, seria liderada por Sóstenes Alves dos Mártires, que já esteve preso acusado de comandar roubos de cargas em vários Estados.

A prisão de “Bido” aconteceu após uma outra investigação. Em fevereiro, quando policiais da Deic estiveram em Olho d’Água das Flores, investigando o sequestro e morte de um comerciante, populares alertaram aos policiais sobre “Bido”, visto com uma pistola calibre 380 e com pessoas suspeitas. Em um rápido levantamento foi descoberto que o homem indicado era o motorista do prefeito da cidade, função que lhe dava certas regalias – sem o conhecimento do político – para andar armado.

Na mesma época os policiais também relacionaram as características físicas dos matadores de “Petrucinho” com a de “Bido” e com o aprofundamento das investigações e relatos de pessoas que conhecem o suspeito também foi descoberto que “Bido” já havia sido citado como suspeito de uma chacina em 2017, que vitimou os irmãos Samuel de Souza Alexandre, 22, José de Souza Alexandre, 15, e José Juliano de Souza Alexandre, 14, que moravam em Carneiros. Samuel era acusado de homicídio. Um outro jovem também foi morto e encontrado junto com os irmãos. Os corpos das quatro vítimas, que, segundo a polícia, eram usuários de drogas, foram desovados, com tiros na região da cabeça, em um sitio em Jacaré dos Homens.

Os jovens teriam sido sequestrados por um policial militar, considerado o “braço armado” do “Tribunal da Morte”. Suspeita-se que o militar, na companhia de “Bido”, levou as vítimas até o sítio, onde lá aconteceu a chacina.

Mais foram as últimas movimentações de “Bido”, que quando teria matado “Petrucinho” estava acompanhado de outro pistoleiro e teve a cobertura de outros comparsas, que levaram a delegada se antecipar a possíveis outros crimes e solicitar sua prisão a Justiça. A prisão dele surpreendeu os incrédulos que acreditavam que o homem nunca iria parar num xadrez, mas também foi comemorada por uns poucos que ajudaram a polícia com informações até então desconhecidas. Policiais envolvidos nas investigações são unanimes em admitirem que suspeitavam que se “Bido” continuasse em liberdade mais crimes poderiam acontecer.

Mantendo descrição e evitando falar detalhes sobre as investigações da morte do coordenador de transporte de Pão de Açúcar, policiais civis confirmaram que informalmente “Bido” falou que sentia medo de ser assassinado na prisão, não negando – nem confirmando – sua participação no “Tribunal da Morte”. Mas Josenildo Simão teria dado detalhes importantes sobre o bando e chegou, num primeiro momento, relacionar Sóstenes a vários crimes e que o verdadeiro objetivo da quadrilha era matar o irmão de “Petrucinho”, o trabalhador Peterson Anjos Filho, alvo de vários atentados a bala e que hoje teme retornar a Pão de Açúcar. Porém, após falar do temor que sente, o homem mudou a versão e insiste em falar que é inocente de todas as acuçaões. 

Mas enquanto a polícia enfrentada dificuldades para que Josenildo falasse o que sabe sobre o “Tribunal da Morte” e seus participantes, seus advogados, na quinta-feira (6), tentaram sua liberdade através de um habeas corpus, que em parte foi negado pelo juiz Lucas Carvalho Tenório, da comarca de Olho d’Água das Flores, que alegou, conforme o processo nº 0700203-77.2021.8.02.0025, que contra o preso havia um outro mandado de prisão, expedido pela Justiça em Pão de Açúcar.

A pressa da polícia e de familiares de várias vítimas da organização criminosa é que de posse do organograma do “Tribunal da Morte” e os possíveis crimes praticados, a Justiça determine novas prisões, acabando com o tráfico de drogas na região e principalmente evitando outras mortes.

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