O governador alagoano classificou como “lamentáveis” as cenas recentes do presidente Bolsonaro em aglomerações, na semana passada em Estados do Nordeste e no Rio. “São equívocos incontáveis.”
Na entrevista, Renan Filho disse ainda que o cenário político atual aponta para que o MDB abra mão de candidatura própria a presidente em 2022 e opte por um dos lados da polarização política desenhada entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
São cenas lamentáveis, né? Por vários motivos. Primeiro porque elas próprias contribuem muito para o aumento da transmissão da doença, e, segundo, porque dão um péssimo exemplo ao País no momento em que a gente precisaria dar bons exemplos à população, porque não é fácil enfrentar uma pandemia dessa natureza. Portanto, o esforço coletivo precisa ser dividido. E, quando a gente vê uma aglomeração liderada pelo próprio presidente da República, certamente, em minha opinião, as pessoas ficam sem compreender nada.
Eu recebo as críticas, primeiro, com naturalidade. Como tem muita dificuldade para se defender nessa crise, o governo é como se fosse um time de futebol sem volante, sem zagueiros, sem laterais e sem o próprio goleiro. Ou seja, parte para última alternativa, que é um ataque. Então, eles têm feito isso em várias vertentes. Tanto contra o relator, quanto contra governadores de Estado, que, a meu ver, têm sustentado o Brasil. Por isso uma federação é importante, porque quando alguém está no rumo equivocado, a federação modera esse equívoco.
Os governadores têm agido decisivamente no sentido de respeitar a ciência, preservar vidas, criar as condições para as pessoas serem tratadas quando adoecem, defendendo a vacinação em massa desde o início, inclusive se colocando à disposição para comprar, mesmo em uma condição financeira muito aquém da União. Estados têm limite orçamentário, claro. A União, não.
Eu não sofro esses ataques nacionais de uso de robôs. Mas esses ataques também são circunstanciais, cada dia tem um alvo. Isso é da atividade. Um dia foi o Renan, outro dia foi o governador do Maranhão, outro dia foi o governador de São Paulo, antes o governador do Rio Grande do Sul. Esses ataques se tornaram corriqueiros, a gente já conhece a estratégia e ninguém vai recuar do que faz, do trabalho que faz. Sou dessa geração, eu valorizo as conexões entre pessoas, as conexões virtuais, mas a gente sabe que muita gente tenta desvirtuar, transformar um pensamento majoritário nas redes que claramente não é um pensamento majoritário nas ruas, e a gente não observa isso nas pesquisas de opinião.
É muito difícil o trabalho, porque a CPI tem que construir uma narrativa que é negada o tempo inteiro com enredos múltiplos, sempre recheados de mentiras. As pessoas se eximindo do que falaram, flexibilizando o que foi postado em rede social, dizendo que aquela mensagem não era verdadeira. Constrói-se a narrativa para justificar o caos, a gente vendo a América Latina se destacar internacionalmente pelo número de mortes por covid-19, e o Brasil com aproximadamente metade das mortes ocorridas na região onde mais morre no mundo, muito por equívocos de condução da pandemia, equívocos incontáveis. O de anteontem (no Rio), como você iniciou essa entrevista, foi um exemplo de “aglomere”, né? O exemplo é: aglomere. Então esse foi um, mas tem incontáveis que estão sendo relativizados, arredondados. Com relação à convocação eu, sinceramente, aqui em Alagoas, não vejo nenhum motivo para ser convocado. Primeiro, o Estado tem um dos menores números de mortes do Brasil, e o menor do Nordeste em números absolutos, mesmo não tendo a menor população. Nós temos o terceiro menor número de mortes relativas do País aqui em Alagoas por grupo de 100 mil habitantes, é o terceiro Estado onde menos morreram pessoas. Nós não temos nenhuma investigação em curso no Estado, com relação a recursos do covid, coisas dessa natureza. De maneira que estarei muito tranquilo se for convocado, mas não vejo motivação para isso.
Eu penso como partido e sou um cara que sempre acho que partido político deve disputar a eleição. A eleição com o Meirelles, a última, foi muito ruim, porque o governo Temer vinha com muita dificuldade. E o Meirelles, ele não é da política, ele não conhece bem o linguajar, não conhecia o Brasil com profundidade, não conhecia as lideranças. Então, ele foi um candidato sem aderência. Mas eu acho que o PMDB, sempre que possível, deve buscar ter candidato, porque o partido precisa apresentar o seu projeto ao País. Nessa atual eleição me parece que o cenário será de polarização. As próprias candidaturas já colocadas, à exceção de Lula e Bolsonaro, involuíram ao longo dos últimos meses.
O que demonstra, diferentemente do que alguns defendem, o surgimento de uma possível terceira via. Na verdade o que está acontecendo ao longo dos últimos meses é a terceira via involuir, e se concentrar nas duas vias principais existentes. E eu vou, dentro do MDB, debater a respeito de apoiar alguma candidatura, ou ter candidatura própria. No cenário atual, a tendência é que não tenhamos candidatura própria. Agora, o PMDB é um partido muito amplo, muito diverso, com lideranças expressivas regionais. Então, esse debate será um debate acalorado.
Eu acho que o MDB tem muita tranquilidade, primeiro que tem uma conduta independente do governo Bolsonaro, isso já ajuda o partido, porque não nos responsabiliza com o que está acontecendo no atual governo. E eu sinto que o pensamento majoritário do partido é por mudança, não é por manutenção do que está aí. E, se é por mudança, nós temos muito espaço para conversar com uma candidatura alternativa e certamente o MDB vai precisar compreender melhor qual será essa candidatura. E o ex-presidente Lula certamente reúne atributos pra fazer esse diálogo, eu não tenho dúvida disso.